O primeiro, sem dúvida é o Google, líder no ranking de
sites de busca, preferido por 92% dos usuários brasileiros. O segundo é a
Wikipédia, enciclopédia colaborativa que atingiu, em fevereiro deste ano,
a impressionante marca de 17 milhões de verbetes (680 mil deles em
português). Em termos de abrangência e agilidade, não há como competir com
esses oráculos da vida moderna. Entretanto, quando o assunto é informação
confiável, é preciso tomar alguns cuidados - não apenas nesses dois sites, mas
em todo o ciberespaço. A seguir, um guia com lições sobre o que, como e onde
pesquisar ajuda a melhorar a qualidade de suas buscas virtuais.
Algumas pistas que indicam se a informação é digna de
crédito estão no próprio texto. A primeira delas: o autor está identificado? Se
está, é sinal de que ele se responsabiliza pelo que escreveu. Verifique também
se a pessoa é especialista no tema. Notoriedade não garante a veracidade, mas
transmite mais respaldo ao escrito. Quando o assunto é Educação, uma busca pelo
currículo acadêmico na Plataforma Lattes (lattes.cnpq.br) ajuda a mostrar o
que, de fato, o autor produziu. Outro caminho é verificar o cuidado no uso da
língua. "Um site que não respeita as regras básicas do idioma demonstra
desleixo com a apresentação dos dados", diz Luciana Maria Allan,
diretora-técnica do Instituto Crescer, em São Paulo, entidade especializada em
estratégias de aprendizagem no mundo digital. Confira também as provas de
veracidade da informação, que demonstram a autenticidade do que se diz: há
relatos e testemunhos? Os entrevistados têm nome e sobrenome ou estão
escondidos sob expressões como "especialistas afirmam"? Por fim, é
preciso atentar à data de publicação. Mesmo acontecimentos históricos estão
sujeitos a revisões e a novas descobertas, o que pode invalidar explicações
antigas.
Fala-se muito na necesidade de distinguir informação de
opinião. Mas, na prática, essa é uma tarefa das mais difíceis, já que a linha
que separa uma coisa da outra, na maioria dos textos, não existe. "Quem
redige toma decisões em larga medida subjetivas, influenciadas por suas
posições pessoais, seus
hábitos e suas emoções", reconhece o Manual da
Redação do jornal Folha de S.Paulo. Ainda assim, vale evitar textos fortemente
adjetivados. Como regra, opiniões devem estar baseadas em argumentos e
evidências. Perceber os interesses do autor também é fundamental. É ingênuo
pensar, por exemplo,
que um fabricante de remédios trará dados imparciais
sobre seus produtos. Sobre o posicionamento do autor, note o seguinte: ele se
distancia das fontes com expressões como "segundo" e "de acordo
com"? Abre espaço para opiniões contrárias, contestações e dúvidas sobre
as conclusões? Em debates polêmicos ou em questões não plenamente desvendados
pela ciência, isso é essencial.
Os detalhes de como o Google ranqueia os sites durante
uma busca são mantidos em sigilo. Sabe-se que a lista se baseia numa fórmula
com dezenas de variáveis, como o número de acessos e a quantidade de links
apontando para a página. Como a confiabilidade não é uma preocupação central,
algumas empresas contratam especialistas em programação para turbinar sua
posição na lista. A revista Exame de 6 de abril ilustrou essas artimanhas com
um exemplo: ao digitar "cirurgia plástica" no Google, o site de Ivo
Pitanguy - uma das maiores autoridades na área - aparece apenas no final da
terceira página de resultados. No topo, médicos em início de carreira e
empresas que financiam intervenções estéticas. Moral da história: o primeiro
nem sempre é o melhor, muito menos o mais crível. Para encontrar o que se
deseja, pode ser necessário clicar em várias páginas - ou, ainda, refinar a
forma como se busca a informação.
O próprio Google ensina a sofisticar suas investigações.
Na página inicial, se você clicar em "pesquisa avançada", encontrará
opções de busca com todas as palavras digitadas, apenas no idioma escolhido,
por tipo de arquivo (.doc, .pdf) e assim por diante. Na maioria das
vezes, não é preciso ir tão longe. Basta digitar as palavras buscadas
entre aspas - a pesquisa só trará páginas em que elas apareçam juntas. Para dar
uma ideia, os termos Educação especial, sem aspas, retornam 6 milhões de
resultados. Com elas, apenas" 1,1 milhão. Outra estratégia é filtrar os
resultados pelos sites que você já sabe que são confiáveis. A forma mais
simples de fazer isso é digitar a expressão entre aspas e, em seguida, o nome
do site. Por exemplo, a busca "Jean Piaget" "nova escola"
retorna principalmente reportagens da revista sobre o pesquisador suíço.
Não dá para ignorar a utilidade da Wikipédia, mas é
preciso utilizá-la com cuidado. Como são os próprios internautas que alimentam
seu conteúdo e não existe uma checagem oficial feita pelo site, pode haver
informações erradas. Para se prevenir, a enciclopédia desenvolveu uma política
de verificabilidade, cujo preceito principal é que os verbetes devem conter as
referências de onde a informação foi tirada - revistas, jornais, periódicos científicos
etc. Quando os artigos não possuem essas citações (indicadas no fim da
página como "notas e referências"), internautas podem sinalizá-los
com uma marcação antes do texto: "Esta página ou seção não cita
nenhuma fonte ou referência". Olho aberto para artigos com esse e outros
símbolos, como "artigo controverso" (para textos excessivamente
parciais) e "artigo ou seção que podem conter informações
desatualizadas". Para saber como determinado verbete chegou à sua
forma atual, clique em "ver histórico", na parte superior da tela,
onde estão todas as mudanças feitas no texto.
A palavra-chave aqui é a checagem da informação. Se ela
está na base de dados de uma universidade ou faz parte de uma publicação
acadêmica, provavelmente passou pelo crivo de especialistas no tema. Se está
num meio de comunicação respeitado, passou ao menos pela checagem do editor.
Lúcio França Telles, professor da Universidade de Brasília (UnB), alerta para o uso do popular Yahoo Respostas, em que os textos dos
internautas não passam por nenhuma conferência. Melhor recorrer ao Google
Acadêmico (scholar.google.com.br), que busca resultados apenas em livros e
periódicos universitários, ao Scielo (scielo.br) e ao portal de periódicos da
Capes (periodicos.capes.gov.br), bibliotecas virtuais com artigos,
livros,enciclopédias e obras de referência. Para os alunos, vale indicar a
respeitável Enciclopédia Britannica (escola.britannica.com.br). Não custa
lembrar ainda que, quando o assunto da busca é Educação, o site
novaescola.org.br é um grande aliado.